segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Saudade




Eu não queria ter que partir.
Esvaziar os armários como quem quer livrar a alma
do aperto de ter que deixar quem se quer bem.
Ao tempo em que os olhos se enchem de lágrimas e o resto todo de dor.
Já te disse o quanto te adoro?
Já disse o quanto me faz bem? O quanto é importante?
Talvez, mas aqui tão longe parece que não disse o suficiente.
Queria ter dito mais, feito mais.
Perto nunca se tem muita noção da dimensão do sentimento ou da importância das pessoas.
E se acaba deixando para depois ou deixando para lá.
Quem colocou essas músicas no meu I pod?
Lembram tanta coisa... ou foi um sonho?
Havia um anjo... o show de uma banda... um lago... eu feliz...
Fecho os olhos e posso viver tudo de novo,
alimentar-me da tua doçura,
de tuas palavras,
realizar o que não deu...
Qualquer pouquinho, daqui é tanto.
Saudade é um sono que não vem.
(escrito em 24/08/07)

Lost

Cheguei a Washington há três dias, mas ainda não tenho muita noção do lugar em que me encontro ou de seu tamanho. Na verdade, moro numa cidade nos seus arredores, chamada Alexandria. Por enquanto, conheço a extensão da linha de ônibus que vai de minha casa à estação de metrô (King Station) e desta até a Univerdidade George Washington.
Dá uma sensação estranha essa de não saber direito onde se está e de como as coisas funcionam. É uma descoberta a cada tanto.
Diria que é a mesma sensação que sinto quando entro no supermercado próximo a minha casa. Não pensei que existissem tantas marcas de cada coisa (para que vinte marcas de água mineral? Até onde eu saiba, água é água; por outro lado, não se encontra uma marca sequer de água com gás, que eu adoro, para minha infelicidade).
Os americanos são especialistas em comidas prontas para levar -nesse supermercado tem desde sushi e frango assado até sopa enlatada-, enfim tudo que se possa imaginar para facilitar a vida na cozinha.
Eu sei, no Brasil também temos essas coisa, porém, em tamanha variedade, acho que nunca vi.
Só que tem um problema. Há tanta coisa, tanta diversidade, que você perde um tempão tentando descobrir o que é e escolher uma das opções disponíveis. Dá um trabalho enorme comparar preço, quantidade, quando há tantas marcas da mesma coisa.
Ontem fiquei mais de uma hora no supermercado para comprar meia dúzia de coisas. Eu não sei se o povo já está acostumado e vai direto no que procura. Eu fico lá horas e ainda tem coisas que não tenho nem idéia do que sejam.
Então me pergunto se vale a pena ter tanta variedade assim pelo tempo que demanda a ida ou mercado. Juro que preferia que tivesse duas ou três marcas e pronto. O tempo que se ganha não tendo que cozinhar, perde-se catando as coisas nos corredores . E o sentimento de estar comprando “gato por lebre” parece inevitável.
Ainda é cedo para dizer, mas acho que tanta diversidade acaba atrasando a vida da gente. Melhor dominar o lugar onde se esta e saber os corredores do supermercado de cor, com seu conteúdo. O desconhecido só me diverte até certo limite.
Pretendo comprar um guia de Washington urgentemente e resolver meu problema de localização. Quanto às comprar, bem, ou compro sempre as mesmas coisas que já experimentei e sei mais ou menos onde estão para não perder tempo ou... lá se vão mais algumas horas em pesquisa e exercício de inglês tentando decifrar todos aqueles rótulos e do que se trata. NO WAY!!!
(escrito em 24/08/07)

Despedida - Gustavo Barreto

O microfone anuncia a última chamada para o vôo, vcs se olham e instintivamente se abraçam. Surge então a tentativa de tentar representar em palavras os sentimentos, mas as lágrimas são muito mais eficientes. O beijo de despedida. Lá do segundo andar um aceno, um beijo, o último contato visual. O avião parte para a cabeceira da pista e decola. Resta-lhe apenas olhar, vê-lo sumir no horizonte e sentir seu coração apertar, cheio de incertezas e dúvidas sobre o futuro. (texto e foto Gustavo Barreto http://www.olhares.com/gbarreto )

Sem desfazer as malas

A linha da vida é um fiozinho tênue. Hoje estamos aqui, amanhã, quem sabe?
Chocam-me as tragédias.
Particularmente essa do acidente da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Fez-me refletir o quão pequena sou e quão frágil, a vida.
Não me saem da cabeça essas pessoas que estavam nesse vôo. Perder a vida dessa forma.
Quase duzentas pessoas, muitas delas gaúchos. Vidas abreviadas sem consulta prévia, sem despedidas, sem desfazer os mal-entendidos, sem desfazer as malas.
Julio, deputado; Antônio, médico e professor; Sílvia, mãe de Valentina; Fabiane, comissária da Tam; Rebeca... Todos eles e tantos outros passageiros, com suas histórias de vida, estamparam o jornal. O Estado todo consternado. O país.
Estou indo passar uma temporada de estudos fora do país. Diferentemente deles, tive tempo de fazer e desfazer as malas, de me despedir. Não que a tristeza por deixar pessoas queridas não tenha me dado vários nós na garganta cada vez que abraçava alguém me despedindo. A idéia de ficar cinco meses longe já angustia, pela saudade que se antecede. Mas eu pude me despedir e sei que a ausência é temporária. Tenho os recursos do telefone, da internet, etc. E eles? E suas famílias? Partiram sem saber que não tinha volta.
O mais chocante é que podia ser com qualquer um de nós. Eu mesma tinha vôo marcado, para São Paulo, na semana seguinte a do acidente e recebi telefonemas e e-mails de amigos preocupados se eu estaria também no vôo.
Somos reféns do caos no sistema aéreo do país, estamos apavorados e impotentes e, o pior, precisamos continuar viajando de avião, pois a vida segue e com ela os negócios, os compromissos. É frustrante ver que, após uma desgraça desse porte, as coisas sigam exatamente como estavam antes. - Não se preocupe não- dizem alguns – segundo as estatísticas pelo menos por seis meses estamos livres de acidentes aéreos. Até quando isso vai continuar? Quem trará de volta a confiança? Quando atitudes sérias e efetivas serão tomadas? Quando o aeroporto de Congonhas terá a resolução dos problemas de segurança dos usuários, em detrimento do interesse econômico e lucro de alguns grupos?
O que mais angustia é esse sentimento de não poder fazer nada, de estar com as mãos atadas, enquanto pessoas perdem a vida pela irresponsabilidade e omissão das medidas de prevenção necessárias a evitar esse tipo de tragédia.
Pelo menos que esse sacudão me leve a viver cada dia intensamente, levar a vida de forma leve, livrar-me das preocupações bobas e pequenos problemas, dizer às pessoas que amo o quanto elas são importantes, aproveitar os pequenos momentos de felicidade e da companhia dos amigos, fazer as pazes, perdoar, tentar ser feliz hoje, para não se arrepender do que deixou de ser feito quando o fio da vida se romper ali adiante. (escrito no final de julho de 2007, dias após o acidente

domingo, 12 de agosto de 2007

Anjos


Você acredita em anjos?
Posso dizer que conheço alguns. Eles caíram de pára-quedas em minha vida (isso mesmo, de pára-quedas, porque esses anjos, de que falo, são diferentes, não tem asas), acho que enviados pelo cara lá de cima. O mais legal é que eles aparecem nos momentos cruciais, de dificuldades, mudança, perda, decepção, como para compensar um sofrimento relevante. Bom, né?
Não tinha me apercebido disso, de que eles aparecem nas tempestades, até recentemente conhecer o último deles. Deve ser porque nesses tempos difíceis, nosso discernimento fica um pouco comprometido, e a gente só pensa que foi injustiçado, que tal coisa não podia acontecer justamente conosco. Então eles aparecem, nos pegam no colo, curam nossas dores e ficam para sempre. A gente nem nota. Cito alguns.
Foi assim com a Fabi, um anjinho que apareceu quando eu mudava de cidade, em função do trabalho, e andava por aí como uma tartaruga com a casa nas costas. Amizade à primeira vista. Cheguei a pensar que não podia ser normal, porque jamais conheci uma pessoa como ela. É dessas pessoas que tem uma luz interior, algo que naturalmente cativa e acolhe. Como se estivessem sempre sorrindo por dentro. Não sei explicar. Apelidou-me de pintinho destemido, de mochilinha nas costas. Ajudou a desemperrar a janela e a deixar o sol entrar.
O Mano também surgiu num daqueles momentos em que você vaga pela vida meio sem rumo. Esse anjinho pegou-me pela mão e me mostrou que a vida vale a pena. Sua alegria, sua simplicidade, a beleza de sua alma contagiaram a minha e me fizeram acreditar de novo no ser humano, que é possível ser feliz.
Recentemente uns anjinhos incipientes - de grande potencial - tem povoado minha vida.
Bom, o momento difícil de agora, diríamos, é que tive uma grande frustração. O mar paradisíaco em que me encontrava transformou-se em Tsunami. Quase não sobreivi. O cara lá em cima se preocupou e resolveu mandar três anjinhos em seqüência para me cuidar.
A Kellizinha é um desses anjinhos brigões que quer te defender com unhas e dentes de qualquer um que possa te deixar triste. Não importa como, dá um jeito de fazer você rir da sua própria desgraça. E você ri mesmo. Ri muito. Ela esvazia o peso da sua mochila.
Renata é um anjo querido que despencou da sua nuvenzinha diretamente no meu Orkut. Para quem não tinha qualquer informação a seu respeito e achava que nunca mais a encontraria, a conclusão lógica é que só pode ter um dedinho do amigão de novo, dessa vez se utilizando da tecnologia para incutir esse outro anjo. Renata tem a sinceridade e a retidão como seus princípios, virtudes escassas nas pessoas hoje em dia, mas que não se estranha encontrar em um anjo. Sua amizade dedicada se revelou um presente, e seu apoio, fundamental para superar a tristeza. Surpreendi-me com a amiga que encontrei. É como pisar, de novo, no chão, com os pés nus, depois de tirar doloridas sandálias de salto
Então, com Renata, veio o terceiro anjinho. Cara de menino pestinha, os olhos, no entanto, desmentem-no, revelando toda a pureza do que ele é. Gustavo é daquelas pessoas transparentes, sensíveis, amáveis, desses caras verdadeiros que a gente já não acredita que exista hoje em dia. Pense em algo doce. Conhecer esse anjo equivaleu a um cutucãozinho no ombro que instiga: "ei, nem todo mundo é igual."
Olhe ao seu redor e veja se você também não tem esse tipo de pessoa em sua vida.
O Exupéry dizia que a gente tem que suportar duas ou três larvas para ver as borboletas. Eu diria que a gente tem que passar por uma ou duas difíceis, se quiser conhecer os anjos. No final, o saldo é positivo: a tristeza passa, os anjos ficam. Inclusive impedindo outras pequenas tristezas de se manifestarem. Até que caia outro temporal. Mas esses são mais raros e, apesar de não existirem guarda-chuvas contra eles, trazem os anjos. Não se preocupe: o habitual são as chuvas de verão. Molham muito, mas secam logo.
Ah, tem mais uma coisa: os anjos transformam os Tsunamis em chuvas de verão. Acho que vale a pena!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Dobrando o Mapa

Foto Gustavo Barreto (http://www.olhares.com/gbarreto Calçada na Orla de Atalaia)

O melhor de viajar é que, além de você conhecer um lugar novo, vive tanta coisa diferente, experimenta outras culturas, conhece pessoas.
Como diz um amigo meu, é muito legal poder dobrar o mapa e aventurar-se por esse país tão diversificado.
De Porto Alegre, diretamente para Aracaju, com pit stop em São Paulo para entrevista no Consulado Americano, as diferenças já iniciam assim que saio do avião.
Vinda de um frio de oito graus, aproximadamente, desci, no aeroporto da capital sergipana, vestindo calça jeans, botas de plataforma, blusão de lã, jaqueta e cachecol, dando de cara com uma noite úmida de vinte e cinco graus. As pessoas deviam estar pensando que eu vinha do pólo norte. Ou como me disse um amigo baiano que mora aqui há anos: - O pessoal deve ter te olhado e pensado "Essa aí foi viajar para o frio e agora vem vestida assim para aparecer."
No hotel, após o check in, às 2h da manhã, o atendente me informa que o café da manhã está servido e que eu ficasse à vontade. "Quê, como assim, às 2h da manhã?" Claro, o café funcionava da 1h às 10h. Humm... Esse pessoal deve ser meio notívago. Carne de sol, cuscus, mandioca, bolo de tapioca, suco de úmbu, graviola e mangaba, compondo o cardápio, completaram minha estranheza.
As diferenças não pararam por aí.
Divirto-me com o jeito deles de falar, rápido e com o sotaque nordestino carregado. Anoto algumas expressões para não esquecer: Repare, ói, ói ela, dia de quinta, hente (para dizer gente com a pronúncia do h do inglês), minha tia (com TI mesmo e não TCHIA, como falamos em Porto Alegre), di dia ( com DI ao invés de nossa pronúncia de DGIA), e a falta dos artigos definidas na frente dos nomes próprios: esse é o hotel DE Angela (e não DA Angela) ou Paula me ligou (ao invés de A Paula me ligou).
Também descobri que há uma rivalidade com Salvador, na busca do sotaque perfeito. Os baianos acham que o sotaque deles é melhor e detestam o do sergipano; estes já acham que o seu é que é bonito e o correto. Confesso que, para uma gaúcha, sem querer ofender ninguém, inicialmente, os sotaques me pareciam todos iguais. Só depois de um tempo aqui, e após ter ido tantas vezes a Salvador, e convivido com baianos e sergipanos concomitantemente, prestando bem atenção, é que comecei a reparar as diferenças do jeito baiano de ser e do sergipano de falar. Mas não é fácil não.
O elemento humano é o melhor. Qualquer lugar fica interessante quando você está em boa companhia. Talvez por isso eu esteja achando o máximo essa cidade. Ainda que com suas limitações em termos de infra-estrutura, opções culturais e de lazer, que outras capitais, mesmo do nordeste, oferecem, acho-a charmosa em sua simplicidade. Quem tem amigos tem tudo. E, aqui, as amizades que fiz tem feito eu me sentir em casa. É como se estivesse em uma cidadezinha do interior, pois todos se conhecem e acabam se encontrando nos mesmos lugares. Fico sabendo das histórias, da vida das pessoas, das festas e do que está acontecendo de legal na cidade, além de freqüentar os mesmos picos dos nativos. Em pleno julho, fui a uma festa na beira da praia, onde teve show do Capital Inicial, enquanto, no sul, os porto alegrenses tilintavam de frio. Freqüentei alguns barzinhos e baladas, cheio de gente bonita e pouca roupa. Parece inacreditável que eu esteja falando do mesmo país.
Adoro muito tudo isso! Gosto de ir para um lugar e curtir a vida dali, saber como as pessoas vivem, seus hábitos e modas. Conhecer pessoas, fazer amigos.. Não acho graça em conhecer dez lugares correndo. Prefiro demorar mais em um só e levar um pedacinho da experiência dali, com tudo que essa vivência representa. E, nesse momento, isso tem me feito muito bem. Dá até vontade de ficar...