segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Sem desfazer as malas

A linha da vida é um fiozinho tênue. Hoje estamos aqui, amanhã, quem sabe?
Chocam-me as tragédias.
Particularmente essa do acidente da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Fez-me refletir o quão pequena sou e quão frágil, a vida.
Não me saem da cabeça essas pessoas que estavam nesse vôo. Perder a vida dessa forma.
Quase duzentas pessoas, muitas delas gaúchos. Vidas abreviadas sem consulta prévia, sem despedidas, sem desfazer os mal-entendidos, sem desfazer as malas.
Julio, deputado; Antônio, médico e professor; Sílvia, mãe de Valentina; Fabiane, comissária da Tam; Rebeca... Todos eles e tantos outros passageiros, com suas histórias de vida, estamparam o jornal. O Estado todo consternado. O país.
Estou indo passar uma temporada de estudos fora do país. Diferentemente deles, tive tempo de fazer e desfazer as malas, de me despedir. Não que a tristeza por deixar pessoas queridas não tenha me dado vários nós na garganta cada vez que abraçava alguém me despedindo. A idéia de ficar cinco meses longe já angustia, pela saudade que se antecede. Mas eu pude me despedir e sei que a ausência é temporária. Tenho os recursos do telefone, da internet, etc. E eles? E suas famílias? Partiram sem saber que não tinha volta.
O mais chocante é que podia ser com qualquer um de nós. Eu mesma tinha vôo marcado, para São Paulo, na semana seguinte a do acidente e recebi telefonemas e e-mails de amigos preocupados se eu estaria também no vôo.
Somos reféns do caos no sistema aéreo do país, estamos apavorados e impotentes e, o pior, precisamos continuar viajando de avião, pois a vida segue e com ela os negócios, os compromissos. É frustrante ver que, após uma desgraça desse porte, as coisas sigam exatamente como estavam antes. - Não se preocupe não- dizem alguns – segundo as estatísticas pelo menos por seis meses estamos livres de acidentes aéreos. Até quando isso vai continuar? Quem trará de volta a confiança? Quando atitudes sérias e efetivas serão tomadas? Quando o aeroporto de Congonhas terá a resolução dos problemas de segurança dos usuários, em detrimento do interesse econômico e lucro de alguns grupos?
O que mais angustia é esse sentimento de não poder fazer nada, de estar com as mãos atadas, enquanto pessoas perdem a vida pela irresponsabilidade e omissão das medidas de prevenção necessárias a evitar esse tipo de tragédia.
Pelo menos que esse sacudão me leve a viver cada dia intensamente, levar a vida de forma leve, livrar-me das preocupações bobas e pequenos problemas, dizer às pessoas que amo o quanto elas são importantes, aproveitar os pequenos momentos de felicidade e da companhia dos amigos, fazer as pazes, perdoar, tentar ser feliz hoje, para não se arrepender do que deixou de ser feito quando o fio da vida se romper ali adiante. (escrito no final de julho de 2007, dias após o acidente

Um comentário:

Anônimo disse...

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