segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Dobrando o Mapa

Foto Gustavo Barreto (http://www.olhares.com/gbarreto Calçada na Orla de Atalaia)

O melhor de viajar é que, além de você conhecer um lugar novo, vive tanta coisa diferente, experimenta outras culturas, conhece pessoas.
Como diz um amigo meu, é muito legal poder dobrar o mapa e aventurar-se por esse país tão diversificado.
De Porto Alegre, diretamente para Aracaju, com pit stop em São Paulo para entrevista no Consulado Americano, as diferenças já iniciam assim que saio do avião.
Vinda de um frio de oito graus, aproximadamente, desci, no aeroporto da capital sergipana, vestindo calça jeans, botas de plataforma, blusão de lã, jaqueta e cachecol, dando de cara com uma noite úmida de vinte e cinco graus. As pessoas deviam estar pensando que eu vinha do pólo norte. Ou como me disse um amigo baiano que mora aqui há anos: - O pessoal deve ter te olhado e pensado "Essa aí foi viajar para o frio e agora vem vestida assim para aparecer."
No hotel, após o check in, às 2h da manhã, o atendente me informa que o café da manhã está servido e que eu ficasse à vontade. "Quê, como assim, às 2h da manhã?" Claro, o café funcionava da 1h às 10h. Humm... Esse pessoal deve ser meio notívago. Carne de sol, cuscus, mandioca, bolo de tapioca, suco de úmbu, graviola e mangaba, compondo o cardápio, completaram minha estranheza.
As diferenças não pararam por aí.
Divirto-me com o jeito deles de falar, rápido e com o sotaque nordestino carregado. Anoto algumas expressões para não esquecer: Repare, ói, ói ela, dia de quinta, hente (para dizer gente com a pronúncia do h do inglês), minha tia (com TI mesmo e não TCHIA, como falamos em Porto Alegre), di dia ( com DI ao invés de nossa pronúncia de DGIA), e a falta dos artigos definidas na frente dos nomes próprios: esse é o hotel DE Angela (e não DA Angela) ou Paula me ligou (ao invés de A Paula me ligou).
Também descobri que há uma rivalidade com Salvador, na busca do sotaque perfeito. Os baianos acham que o sotaque deles é melhor e detestam o do sergipano; estes já acham que o seu é que é bonito e o correto. Confesso que, para uma gaúcha, sem querer ofender ninguém, inicialmente, os sotaques me pareciam todos iguais. Só depois de um tempo aqui, e após ter ido tantas vezes a Salvador, e convivido com baianos e sergipanos concomitantemente, prestando bem atenção, é que comecei a reparar as diferenças do jeito baiano de ser e do sergipano de falar. Mas não é fácil não.
O elemento humano é o melhor. Qualquer lugar fica interessante quando você está em boa companhia. Talvez por isso eu esteja achando o máximo essa cidade. Ainda que com suas limitações em termos de infra-estrutura, opções culturais e de lazer, que outras capitais, mesmo do nordeste, oferecem, acho-a charmosa em sua simplicidade. Quem tem amigos tem tudo. E, aqui, as amizades que fiz tem feito eu me sentir em casa. É como se estivesse em uma cidadezinha do interior, pois todos se conhecem e acabam se encontrando nos mesmos lugares. Fico sabendo das histórias, da vida das pessoas, das festas e do que está acontecendo de legal na cidade, além de freqüentar os mesmos picos dos nativos. Em pleno julho, fui a uma festa na beira da praia, onde teve show do Capital Inicial, enquanto, no sul, os porto alegrenses tilintavam de frio. Freqüentei alguns barzinhos e baladas, cheio de gente bonita e pouca roupa. Parece inacreditável que eu esteja falando do mesmo país.
Adoro muito tudo isso! Gosto de ir para um lugar e curtir a vida dali, saber como as pessoas vivem, seus hábitos e modas. Conhecer pessoas, fazer amigos.. Não acho graça em conhecer dez lugares correndo. Prefiro demorar mais em um só e levar um pedacinho da experiência dali, com tudo que essa vivência representa. E, nesse momento, isso tem me feito muito bem. Dá até vontade de ficar...

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