Cada
vez mais parece que a crônica vai de especializando. O camarada escreve sobre
vinhos, relacionamentos, política, esportes, sem sair do seu nicho. Outros
preferem arriscar-se para a diversidade, não apenas recolhendo os detalhes que
fazem a riqueza do cotidiano, mas mergulhando na vida, refletindo a respeito e
opinando. Este é um livro de opiniões. E
opiniões são opiniões, o sujeito as emite, o interlocutor as recebe, pode
concordar ou não. Por exemplo, a autora
acredita – ou acreditava quando escreveu – que Osama Bin Laden não morreu
quando capturado. Sabia demais, e por isso devia estar em algum buraco secreto
dos americanos levando porrada para falar o que sabe. Eu não concordo, acho que a Al Qaeda seria a
primeira a divulgar a informação de que ele poderia estar vivo, ao contrário de
denunciar, como fez, a covardia – no entender da organização – da execução de
um homem desarmado.
Poderia
ficar páginas e páginas aqui discutindo, ora concordando, ora não, com alguns
textos do livro o que, por si só, já demonstra uma grande qualidade: ele propõe
um diálogo. E sobre questões presentes para qualquer um que se interesse pelo
que acontece na sua volta. Seja a violência urbana, o caos no trânsito (“Não há
mais espaço para automóveis nas ruas de Porto Alegre”, diz a autora, e eu
concordo com isso) ou a pressa da vida contemporânea. Em outros momentos, traz
o leitor para um universo particular; demonstrações de afeto cujo destinatário
nos é desconhecido, embora compartilhemos a singeleza universal do gesto. Dessa
forma, o que se vê é a construção de um mosaico cuja versatilidade admite, ao
virar de uma página, que passemos de Nicolau Maquiavel para Odete Roitman com a
naturalidade de alguém que volta pra casa pendurado em cipós.
Particularmente,
acredito que alguns textos poderiam ser mais extensos. Não sei se existia alguma limitação no espaço
onde foram originalmente publicados, mas em alguns deles, como “A Observadora”,
em que autora contempla a brincadeira das crianças em um parque, o fim abrupto
parece interromper o que parecia ser um convite para repararmos naquele
momento, apenas sugerido. Haveria mais a ser explorado, principalmente porque a
autora demonstrou possuir a sensibilidade necessária para desvendar a riqueza
dos acontecimentos prosaicos. Em diversos momentos o livro lança um olhar inconformado
para nossa realidade; quando comenta a “Disseminação do Mal”, o já citado “Caos
no Trânsito”, a violência ou os descaminhos da cada vez mais desastrosa Copa do
Mundo do Brasil. Será que a tendência contemporânea para a concisão, reflexo
desta velocidade exigida na vida moderna, não estaria privando o leitor de uma
das principais qualidades da literatura: a possibilidade de sublimar esta
realidade opressiva pela sua própria natureza, de uma atividade que requer
atenção, silêncio, paciência, ou seja, tempo? Coincidentemente, ou não, o texto
que trata (ou ataca) diretamente estas questões, “Contra as Horas”, é o mais
extenso do livro.