segunda-feira, 19 de abril de 2010

Maria Luisa

A história de Maria Luisa é breve como sua existência. Na inocência de seu um aninho e pouco, com a boca ainda vermelha dos comprimidos de sulfato ferroso que ingerira pensando que fossem balinhas, disse sorrindo para a mamãe que tinha “papado tudo”.
A mãe de Maria Luiza, na inexperiência de seus vinte anos, perguntou para a avó da menina se fazia mal que esta tinha tomado, pelos seus cálculos, quase meio vidro dos comprimidos, e a avó, apavorada, aconselhou que a levasse ao hospital.
Por fim, a mãe-menina levou a filha no posto de saúde mais próximo, para fazer mais rápido.
A enfermeira vestida de branco passou-se por médica aos olhos da inexperiente mãe, que sequer questionou quando aquela, sem nem examinar a menina, mandou-a de volta para casa, recomendando que desse suco de gelatina para a criança, que esta apenas teria uma dorzinha de barriga, nada demais.
De fato, a pequena começou a queixar-se de dor de barriga, passada uma hora da ingestão, dor essa que foi aumentando a ponto de fazer a menina se contorcer e chorar muito.
Decidiram levá-la ao pronto socorro da cidade, onde no caminho a menina desmaiou de dor, mas, na verdade, chegara ao hospital em coma. A correria foi grande para tentar salvar Maria Luisa, pois a medicação já tinha sido absorvida pelo organismo. Chegou a ser removida a Porto Alegre, porém não resistiu à gravidade de seu quadro, vindo a falecer no dia seguinte.
A história de Maria Luisa chegou até mim hoje por meio de um processo criminal contra a enfermeira. À dor da mãe juntou-se a minha e quase não consegui fazer as perguntas pelas lágrimas que me caiam dos olhos e o nó que eu tinha na garganta.
Errou a mãe que não percebeu a filha tomando a medicação, enquanto fazia o almoço. Mas poderíamos dizer que errou ao confiar na pessoa de avental branco que a atendeu? Seria correto exigir-lhe que não confiasse?
Errou a enfermeira que não encaminhou o caso com urgência ao médico plantonista, subestimando os efeitos de uma intoxicação por sulfato ferroso. Estaria ela com excesso de trabalho? Queria provar conhecimento?
A resposta para essa sucessão de erros é que Maria Luisa pagou com a vida. Com a sua e com um pedaço da de sua mãe, pai, avó, familiares. Até de mim, que nem a conhecia, arrancou um pedacinho hoje.
A natureza devia ter permitido sete vida às crianças, como garantia de protegê-las de sua curiosidade e inocência, mas, acima de tudo, dos erros e omissões dos adultos, seus descuidos e falta de atenção pelo excesso de tarefas ou seja lá por que motivo for.
Deus deve ter as suas razões para ter levado esse anjinho tão cedo. Se foi para nos ensinar, simbora todo mundo fazer a lição de casa: tirar os remédios, produtos e utensílios perigosos do alcance das crianças; ainda assim, não pregar o olho delas quando estiverem sob nossos cuidados; se você não é médico, não se meta no que você não está preparado para resolver, chame o médico. Se desconfiou, busque uma segunda opinião. Pode parecer pouco, mas também pode ser a diferença de ter seu filho vivo ou não.
Maria Luisa, pelo menos para mim e para todos que conheceram sua história, tenho certeza, não foi em vão.

domingo, 11 de abril de 2010

O Olhar de Antony - por Nílson Souza


O talentoso jornalista (e impagável piadista) Ivo Stigger me presenteou esta semana com a revista que edita para a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Como recebo dezenas de publicações por semana, quase sempre dou uma folheada e deixo de lado para ver mais tarde. Mas o olhar de Antony me fisgou. E quando me fixei mais atentamente no garotinho de um ano que ilustra a capa da publicação, fui fulminado pela cicatriz em seu peito – um corte da parte superior do esterno até o umbigo. Li a história do menino e me comovi mais ainda.

Antony, contam o editorial escrito por Stigger e a reportagem de Angela Caporal, viajou do Acre a Porto Alegre nos braços de sua mãe, de 18 anos, e de sua avó, para se livrar de uma doença congênita do coração. Foi operado no Hospital da Criança Santo Antônio, que desde 2002, graças a um mutirão de solidariedade feito no Estado, voltou a funcionar e passou a integrar o Complexo Hospitalar Santa Casa. Todo o tratamento do menino foi custeado pelo SUS – o nosso tão útil e tão malfalado sistema de saúde pública.

Fiquei longo tempo contemplando a foto do pequeno guerreiro, recém-saído da batalha pela vida. Ela documenta um milagre da medicina, que devolveu vigor ao coraçãozinho avariado. Mas retrata acima de tudo um episódio de coragem, de imensa coragem. Primeiro por parte das duas mulheres que atravessaram o país com sua frágil carga humana, protegida pelo invólucro do amor desinteressado e exclusivo das mães (avó é mãe ao quadrado). Depois, por parte de uma equipe de anônimos servidores da saúde que lidam diariamente com o sofrimento dos doentes, especialmente aqueles que cuidam das crianças enfermas. Porém, o mais impressionante gesto de coragem – na minha visão – foi praticado pelo homem do bisturi, que rasgou o peito delicado do menino para extrair o mal e para consertar os danos com os seus dedos de relojoeiro. Que destemor! Que determinação! Que precisão!

Sei que os cirurgiões fazem isso todos os dias, mas este fez o seu trabalho com tanta destreza e carinho, que, ao tocar no coração do garoto, fez acender uma luz mágica no seu olhar.


Essa crônica foi públicada na Zero Hora de ontem, 11/04/10 e quis dividir com vocês.
Obrigada a Nilson Souza por nos presentear com o olhar de Antony.
Escrita com muito carinho,não pude conter as lágrimas.
Agradeço a Deus pela saúde desse anjinho.
Em tempos de pacote de beleza, é bom ler um texto desses para nos sacudir da nossa futilidade.
abraços

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Volta ao trabalho e resultados

Está difícil de escrever. Voltei a trabalhar essa semana. Não sei ainda como se faz para dar conta do trabalho, do bebê, do marido, e ainda achar um tempinho para mim e para cuidar do blog. Já estou estressada. A fórmula é fácil, eleger prioridades, mas na prática é tão difícil. Ninguém gosta de abdicar de coisas.
Eu até tenho um tempinho sobrando à noite, pois meu bebê dorme cedo, mas aí sou que estou tão cansada que só tenho vontade de dormir também. Talvez seja porque é a primeira semana, espero pegar logo o jeito
Falando do meu pacote de beleza, até agora estava dando um resultado bom. Meu peso na balança não mudou muito, talvez por causa da musculação. Já minhas medidas reduziram consideravelmente: 7cm no quadril – que me permitiu entrar nas velhas calças 38 – e3 cm no abdômen. Bom né? Vamos aos poréns: por falta de tempo, tive de largar a natação. Adotei a caminhada e tento voltar a correr, será que dá na mesma?
O gostoso disso é voltar a ter vontade de se arrumar. E se arrumar, ainda que para o trabalho, faz eu me sentir bem.
Pausa para o final de semana e, na segunda-feira, voltamos quem sabe um pouco mais adaptada.