domingo, 21 de julho de 2013

Susto em Gatwick

Eu me acomodava na janela do voo São Paulo-Londres quando o moço de quase dois metros e cara pouco amistosa - tinha bigode e sangue no branco dos olhos - ocupou a poltrona a meu lado, já puxando assunto em inglês. A aparência dele dava medo. 

Durante o voo ele não pareceu ter problemas para dormir, enquanto eu mal conseguia pregar o olho, pensando que ele poderia colocar alguma coisa na minha mochila, ou subtrair algo. E se precisasse ir ao banheiro? O gigante não parecia que acordaria fácil, e passar por cima dele se vislumbrava impossível. 

Ao aterrisarmos, tratei logo de me distanciar.
No saguão para retirar a bagagem, cachorros e policiais circulavam, enquanto meu "colega" de viagem falava muito alto no celular, gesticulando e chamando atenção. Para meu azar, as pessoas foram escasseando, e as nossas malas foram das últimas a aparecer na esteira. Peguei a minha e me apressei para a saída, quando o moço veio atrás, me chamando e captando a atenção dos policiais.
Um deles ordenou que meu "colega" se dirigisse a uma das mesas. Fui logo me despedindo "bye bye", mas o homem me apontou o cassetete "you too". Expliquei que não estava com o rapaz. Não adiantou. Lá fui eu abrir minha mala para uma policial com luvas cirúrgicas e um aparelho detector de sabe-se-lá-o-quê. O rapaz, na mesa ao lado, não parava de explicar que não estava comigo, o que só parecia piorar a situação. Já tinham lhe aberto a mala, que, aliás, só tinha roupa usada podre dentro, tudo embolado. A moça passou o detector, esfregou um papelzinho branco pela mala e sumiu para dentro de uma sala. Para ajudar, adiante se ouviu uma gritaria, onde uma chinesa se ajoelhava pedindo que não lhe retirassem os pacotes de cigarro. 
Finalmente, a policial voltou com o resultado. "Positivo". "Positivo para quê?"-perguntou o moço. "Cocaína"- respondeu a policial."O senhor me acompanhe".
Enquanto "meu colega" era conduzido, olhei apavorada para a moça que continuava a revirar minha mala. "Perdão,  eu não estou com o rapaz, apenas sentou ao meu lado no voo". A policial me olhou muito séria: "Você tem alguma coisa a esconder?" "Claro que não"- respondi. "Então, por que está preocupada?"
Pelo jeito não iam presumir nada, a menos que eu tivesse algo a me incriminar, e, quanto a isso, eu estava tranquila, afinal,fizera vigília durante todo o voo.
Foi aí que entendi aquela fixação nos aeroportos para que você fique sempre de olho na sua mala. 
Felizmente fui liberada. 
Quando lembro dessa história, começo a pensar que Lombroso tinha razão. 
Ou meu instinto é muito bom. 

(Crônica publicada no Jornal Zero Hora, caderno Viagem, em 9/7/13)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Texto na ZH

Saiu um texto meu na ZH de Terça passada, no Caderno Viagem, "Susto em Gatwick". Leiam e palpitem!
PS. Caso não consigam ler por aqui, aguardem que no próximo post eu coloco o texto.
Também estou devendo as impressões sobre a Flip - Festa Literária de Paraty de 2013, que ocorreu na semana passada.