domingo, 24 de junho de 2018

Filhos-Pássaro Voam Velozes no Tempo de suas Mães

Você também acha que os filhos crescem rápido demais? Nesse texto eu compartilho as minhas apreensões de mãe.
Filhos-pássaro Voam Velozes pelo Tempo de Suas Mães
Meu filho está crescendo rápido demais. Tem oito anos e já age como pré-adolescente. Não consigo mais abraçá-lo e afofá-lo a hora que eu quero. Tenho meio que agarrá-lo sem avisar, com ele se esquivando, para depois ele limpar meus beijos discretamente com o dorso da mão, e responder um "tá", meio sem graça, aos meus "eu te amo" efusivos. Ganho o dia quando recebo do nada um "eu também". Ele não quer ser mais o bebê da mamãe, quer se afirmar como ser independente com vontades e ideias próprias. Eu acho lindo e, ao mesmo tempo, desesperador, ver que meu bebê está se transformando tão rápido. Ele ainda recorre à mamãe quando está doente, sentindo algum mal-estar, ou na hora de dormir, quando quer ficar na minha cama e dormir agarrado à minha mão. Ali vejo que continua meu bebê e sempre vai ser, mesmo crescendo rápido demais.
Dá saudade dos abraços e beijos espontâneos, dos pedidos de colo, das palavras pronunciadas erradas, das canções inventadas, de assistir o filme Carros 559 vezes, até saber de cor os diálogos, das brincadeiras infantis que o fazia rir das coisas mais sem graça. Porque ser criança é isso, é achar legal o simples, o que para um adulto pareceria bobo, quando na verdade bobos somos nós, por nos tornarmos sérios demais, por preferirmos a amizade virtual e a colecionar likes nas redes sociais, ao invés de brincar com aquele que está querendo atenção na nossa frente. E depois a gente reclama que o filho só quer saber de celular e videogame, quando apenas é o reflexo de nós mesmos.
Confesso que tenho dificuldade de largar o celular e tenho me policiado por mais qualidade de tempo com meu filho. E não tem sido fácil entrar nesse universo dos meninos de hoje de Youtubers, games, Fifa, Pokémons, Dragon Ball, etc, mas estou me esforçando e tento trazê-lo para o meu mundo analógico de leitura de livros infantis, jogos de cartas e tabuleiros, de fazer paródias trocando a letra das músicas, substituindo-a por trechos sem nexo ou engraçados, só para vê-lo rir com aquela risada gostosa e solta de criança, como quando ele era apenas um bebê e gargalhava quando a gente sumia e reaparecia atrás de um pedaço de pano.
E cada vez mais preciso da qualidade desse tempo com ele, pois agora tive que aprender a dividi-lo com o pai, desde que nos separamos ano passado. E vejo meu filho tentando ser maduro, e a fingir que está tudo bem, ao ficar perto de mim na apresentação da escola de música, quando o pai foi assisti-lo levando uma amiga, como se pensasse "preciso apoiar a minha mãe", mesmo eu dizendo que ele podia ir sentar lá com o papai se quisesse. Esse mesmo menino que quer se fazer de forte, às vezes chora sem motivo e não quer contar por quê. Tampouco admite que esteja chorando, já tão pequeno não quer demonstrar sua fraqueza, como os adultos. E quando não consegue esconder, inventa algum outro motivo qualquer, que na visão dele possa justificar o choro, e que eu, que o conheço profundamente, sei que não faz o mínimo sentido, é apenas uma desculpa pra esconder sua tristeza ou insegurança com algo que talvez ele quisesse que fosse diferente. Então eu apenas o abraço e digo que o amo independente de qualquer coisa e sempre estarei ali para o apoiar. Que não é feio se sentir triste de vez enquando, é normal chorar, mesmo ele não querendo admitir a fraqueza. E que está tudo bem. No fundo, meu coração fica apertado e tenho vontade de sentir aquela dor no lugar dele, mas eu sei que tudo isso faz parte do amadurecimento, e, por mais que me doa, preciso deixá-lo crescer. Criamos os filhos para o mundo, dizem que assim deve ser, mas é o amor e apoio que uma mãe e um pai dão, que os faz retornar sempre ao ninho quando adultos, mesmo podendo caminhar por si. Essa reflexão fez-me lembrar de que preciso escrever logo aquela história infantil que ele pediu, tendo um Gabriel participando do enredo, porque o tempo está voando, daqui a pouco ele será adolescente e não vai querer passar esse "mico" de virar um personagem de livro infantil. E eu pareço a louca do avião, chorando enquanto escrevo durante o vôo São Paulo-Porto Alegre, após participar de um evento que me fez ver que meu DNA é composto do que vem da alma, minha sensibilidade é o meu diferencial, e não tenho que me envergonhar disso. Pelo contrário, expor nossa humanidade nos permite conectar com as pessoas, e é sobre isso que daqui para frente vou escrever. Mas só se sobrar tempo depois de aproveitar o restinho de infância do Gabriel.


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