sexta-feira, 9 de maio de 2008

Para não repetir

Uma voz fina de mulher cantava um samba molengo e melancólico. Mas de repente o samba recuou, quase sumiu, baixinho, para um fundo longe – e uma voz grossa de homem leu um telegrama: "A Alemanha acaba de declarar oficialmente a guerra à Polônia..." A voz grossa falou em 200 aviões bombardeando uma cidade, tropas avançando por quatro pontos da fronteira, aviões lutando sobre o mar, generais conferenciando com ministros. (Rubem Braga)
Iniciava-se a II Guerra Mundial, em 1º de setembro de 1939. Para um país pacífico e multirracial como o Brasil, era difícil entender seu significado. Um líder louco ascendeu ao poder, disseminando idéias de raça ariana superior e propagando a necessidade de varrer da Alemanha as raças impuras, causadoras de todas as misérias e desgraças humanas. Liderado por Hitler, o Reich impôs a ideologia do nazismo, incutida desde muito cedo nas crianças, famílias, escolas e em toda parte. Em breve, todos estariam convencidos da necessidade de eliminar "os inferiores" não só da Alemanha, mas da face da terra. As mais graves violações de direitos começaram a ser cometidas contra os judeus que, gradativamente, tiveram seus bens expropriados, para, em seguida, serem isolados em guetos, de onde sairiam direto para os campos de concentração, onde só os mais sortudos teriam uma morte rápida. A fase do horror estava instalada.
Enquanto isso, o restante do mundo assistia imóvel e atônito a performance de Hitler. Nenhum país queria acolher os fugitivos, pois aquela população faminta representava assumir problemas que não eram seus. Os judeus não tinham lugar seguro onde se refugiar do ódio nazista. Milhões de pessoas foram humilhadas, torturadas, submetidas a trabalhos forçados, experiências biológicas cruéis e exterminadas em câmaras de gás e fornos crematórios.
A reação foi tardia. Só em 1945, pôs-se fim à guerra, o que não significou que a vida dos sobreviventes, sem pátria, sem bens, com os familiares mortos, tivesse passado a ser fácil.
O mundo vive sua culpa pela inércia. Uma forma de amenizá-la é impedir o esquecimento. Lembrar o horror, significa fazer algo para que ele não se repita; para que se desconfie cedo dos líderes, de suas seitas ou partidos fanáticos, e se impeça que usurpem o poder; para que a alteridade seja respeitada em qualquer lugar.
Anne Frank foi uma menina judia que sofreu os suplícios do nazismo. Suas experiências foram relatadas num diário, encontrado depois de sua morte. A exposição que leva seu nome e que tem lugar em Porto Alegre, até 10 de maio, na Usina do Gasômetro, ajuda-nos a resgatar a memória do holocausto e convida à reflexão. É impossível ficar indiferente após tomar consciência de tamanha barbárie cometida contra a humanidade.
(Publicado no jornal VS de São Leopoldo, em 09/05/08)

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