segunda-feira, 21 de abril de 2008

Crônica Premiada

Resolvi deixar a crônica premiada aqui de novo, em evidência por mais um tempo, dada a repercussão que ela teve e a sua importância na minha carreira literária e pela divulgação dada ao blog.
ESCOLHAS
Queria um cachorro, ganhei um passarinho. Queria tocar piano, ganhei um violão. Queria estudar Educação Física, fiz Direito.
Eu até gostava do Fininho, meu canarinho. Só que cachorro tinha tão mais a ver comigo. O do meu tio, por exemplo, era um vira-lata. Mas com nome de gente: Mário Sérgio, por causa do jogador do Inter, eu acho. Mário Sérgio sempre foi muito companheiro. Seguia a mim e a minhas primas. Fazia festa quando nos via. Falava com os olhos. Ganhava comida por ser alegre. Eu era assim e queria um bicho como eu. O Fininho combinava com o jeito do meu pai. Calmo, não incomodava ninguém, não dava trabalho, nem existia.
A paixão pelo piano não sei de onde veio, sei que gostava.Meu pai me convenceu do contrário.
- Como é que tu vai tocar numa festa para os amigos, vai ter que levar o piano nas costas? Violão é muito melhor, você leva pra onde quiser.
- Tá bom. – concordei.
Gostava tanto de meu pai que me deixava levar.Depois percebi. Não queria tocar em festas para os amigos, queria tocar para mim. Meu pai é que gostava de roda de violão com os amigos dele – tocava tambor - tomando chope, madrugada afora. Talvez quisesse tocar violão. Eu não. O violão não foi longe, por mais que gostasse de música.
Gostava de estudar. No fim do terceiro ano, decidi fazer vestibular para Educação Física. Passei em primeiro lugar. Não adiantou. Até piorou. Meu pai foi à loucura. Disse que não ia pagar o curso.Fiz as disciplinas do básico e suspendi. Quando já podia pagar minha própria faculdade, resolvi fazer Direito. Por coincidência, meu pai aprovou, mas aí eu já caminhava sozinha. Também tive meu próprio cachorro e me formei no que eu quis. Já o piano, optei por outras prioridades.
Criança não tem vontade. Os pais escolhem. No entanto, aquilo que eles desejariam ter feito – que o filho estudasse isso, que fosse aquilo. E o convencem. No final, até você acredita que queria aquilo. Uma ponta de frustração sempre fica. O bom é que quando adulto você resolve.
Ou vai para a terapia.
Ou tem filhos.

2 comentários:

Lili Puperi disse...

Muito boa a tua crônica... Me lembrou de um livro que eu gosto muito... Perdas e ganhos da Lya Luft... Se ainda não leu, deverias ler, tem uma parte, bem no início, que ela fala exatamente a mesma frase que tu: Criança não tem vontade...

Bom, achei teu blog por aí, e gostei de ler... Vou te linkar...
Boa semana...

Anônimo disse...

Olá, doreeeeeeiiiiii demaissss da conta!!

BjOO BjOO