Um pai pode influenciar seu filho a
fazer qualquer coisa, a gostar de qualquer coisa, para o bem e para o mal. Meu
filho tem cinco anos, é do Flamengo, seu pai é do Flamengo, moramos em Porto
Alegre, vejam só. Que poder de persuasão têm esses pais! Tão sutil e tão forte.
Nas aulas sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, com o Dr. Jorge
Trindade, marcou-me a informação de que a falta da figura paterna pode ser a
causa, ou uma das causas, para o desajuste social de muitos adolescentes
infratores. A figura do pai é o limite; às vezes essa figura pode ser
representada por outra pessoa, que não o pai propriamente dito, mas, se ela é
falha, dá margem a danos irreversíveis naquela personalidade em formação.
Muitos dos nossos problemas sociais são atribuídos à lacuna histórica na
educação, mas muito também, digo eu, por falta de pais de verdade. O pai é o
modelo, o heroi desse menino que vai crescendo pisando nas pegadas deixadas por
aquele que lhe precede. Quer ser grande para imitá-lo nos brinquedos de adulto,
porque, conforme dizem por aí, essa seria a diferença, entre os homens e os
meninos. E falo não em tom de crítica ou menosprezo, mas com admiração àqueles
que conseguem manter viva a criança dentro de si.
Enquanto isso, meu filho sonha com o
dia em que vai ter oito anos para tocar guitarra, com os treze para ter uma
banda de rock, com a adolescência para jogar jogos de guerra no videogame, com
o dia em que será adulto e poderá dirigir um carro ouvindo a música “It's my
life” bem alta, esta última dita por ele hoje. Não o vejo desejando fazer as
coisas que a mamãe faz ou gosta, que, sem preconceito algum, não tem a ver com
questão de gênero, mas com o paradigma eleito, não dirigido à mim. Até porque
eu torço para o Inter, toco piano, gosto de ler, pratico esportes, tenho
hábitos saudáveis, coisas que considero bem legais para um filho imitar. Não
adianta, a disputa é inglória, a derrota, por goleada. Mãe é colo, consolo,
afago, porto seguro. Conforma-se em não ser espelho, basta-lhe ser beijo e
abraço, ter o filho por perto, vê-lo bem, dar-lhe amor.
Assim eu desejo, no mais íntimo, na
minha lista de pequenas utopias, que os pais sejam carinhosos com suas esposas,
gentis com quem lhes presta serviço, do porteiro ao presidente da empresa;
honestos acima de tudo, mesmo que pareça bobagem ou sejam taxados de otários;
humildes para reconhecer o erro e desculpar-se; tolerantes com o ser humano,
seja na igualdade ou na diferença; exerçam de modo consciente o papel
fundamental na formação do caráter daqueles que tem a chance de mudar esse
país.
(Texto em homenagem a Gustavo Barreto que é um pai exemplo para Gabriel)
Nenhum comentário:
Postar um comentário