domingo, 16 de setembro de 2012

Uma geração de avós precoces

                                                            (foto: Gustavo Barreto)


Não passaremos impunes à nossa escolha de adiar a maternidade/paternidade. 
A vida pós-moderna exige que as pessoas estudem, façam carreira, obtenham a independência financeira e lá perto dos quarenta, porque a natureza pede a conta, é que pensem em ter filhos. Muitos desistem. Preferem usufruir do padrão alcançado sem preocupações com os cuidados a outro ser.
Sou dessas que deixaram a maternidade para a última badalada do relógio. Se meu filho resolver fazer o mesmo, fico pensando que talvez não venha a conhecer meus netos. Entretanto, alimento uma esperança rebelde, por conta da medicina que nos faz viver mais.
Somos uma geração de pais-velhos-de-primeira-viagem e, pelo jeito, sem perceber, passamos a atuar como se avós fôssemos: estamos estragando os filhos.  É antiga aquela máxima de que os pais educam e os avós estragam. O que se vê, no entanto, é a total ausência de limites, com pais deixando os filhos fazer tudo. Nós, adeptos da paternidade tardia, carregamos a culpa da falta de tempo e queremos compensá-la com a permissividade, com presentes. Intitulamo-nos  amigos dos filhos e agimos como tais. Pesa, também, o fato de que educar dá trabalho, desgasta, exige tempo, dedicação e persistência. É mais fácil dizer sim.
O que não percebemos é que estamos criando pessoas despreparadas para as frustrações. Os candidatos a monstro se criam na permissividade, não no limite. Os primeiros embates já começarão na escola, quando encontrarem crianças e professores indiferentes à sua tirania. Em decorrência, passarão a desenvolver uma revolta aparentemente sem motivos. “Não entendo, meu filho tem tudo, faz o que quer”. Parece óbvio para quem olha, mas quem está no papel de educador não enxerga onde está o problema. Ou não teríamos tantas crianças endiabradas por aí, sem educação, más, pequenos reis querendo impor sua vontade aos demais.
Não sou uma mãe perfeita, admito. Trabalho o dia todo, dificilmente consigo almoçar com meu pequeno, chego de noite cansada, louca por um banho e cama. Ao contrário, há um menino doido por atenção e inicio o terceiro turno. Tenho que encontrar energia para brincar e conversar e explicar e dizer não e ceder e dizer não de novo. Ah, e negociar. É um estica-e-solta sem fim. Minha regra é tentar manter a palavra, ser coerente, o que nem sempre consigo, o que nem sempre funciona. E me envolvo. A criança sente e aceita. Com um tanto de birra, claro, mas aceita. O limite, somado ao amor, dá segurança.
Recebo inúmeros elogios das pessoas sobre o comportamento do meu filho, o que me faz pensar que estou no caminho certo. Será que consigo educá-lo desse modo porque ele é meigo e tranquilo ou é meigo e tranquilo porque é educado desse modo? Prefiro acreditar na segunda opção. Vó antes do tempo, nem pensar.

 

Um comentário:

karla siqueira disse...

Amei o post Angela! Já indiquei para minhas alunas de Pilates, e havia deixado um comentário,mas acho que deu errado na hora de enviar. Parabéns pelo tema e por suas palavras. Abraço, karla