A
gente passa trabalho no país dos outros. Numa dessas, entrei num supermercado,
nos Estados Unidos, para comprar comida. Na hora de pagar, optei por um dos guichês
de autoatendimento, onde você mesmo passa suas compras, empacota e paga.
“Bem-vindo”, disse a máquina em
inglês. “Pressione a tecla com a opção desejada”. “Passe o produto pelo leitor
de barras”. “Coloque o produto na sacola”.
Tudo funcionava bem, até chegar nas
malditas maçãs. Deduzindo que precisariam ser pesadas, larguei-as numa parte
metálica. No visor apareceu o peso das frutas.
“Pressione a opção desejada”. E então
o visor me mostrava vários quadrinhos de frutas e verduras – exceto maçã. Olhei
em volta e não havia um atendente sequer, apenas uma fila de pessoas impacientes.
Voltei ao procedimento e procurei algum botão que cancelasse. Nada. Procurei a
fruta mais próxima em formato e preço de maçã, e o pêssego foi a solução, até
porque tinha valor ligeiramente mais caro. Apertei.
“Pêssegos, coloque o produto na sacola”.
Coloquei as maçãs na sacola, fiz cara
de paisagem e continuei.
Uma funcionária apareceu. Conferiu no
visor minha lista e se deteve nos pêssegos. Retirou as maçãs da sacola e
mostrou-as para mim, falando com rispidez: - isso não é pêssego, é maçã. O supermercado
parou, e todos me olhavam como se eu fosse uma criminosa.
A atendente começou a bater no visor
com fúria para corrigir meu procedimento.
Desfeito o erro, paguei e saí,
morrendo de vergonha e culpada, afinal aquele ato poderia ter causado quebra de
caixa pelos centavos a mais que eu teria pago pelas maças adquiridas como
pêssegos e uma inexplicável diferença no estoque, que apontaria três maças
faltantes e três pêssegos em demasia. Imperdoável! E eu que pensei que ser
flexível na solução de problemas fosse uma virtude. Bem, vai ver são esses
comportamentos que mantêm a ordem existente naquele país. Pêssego é pêssego,
maçã é maçã. Amém.
Desde então, por segurança, na terra
do Tio Sam, onde maça é maçã, ou na República das Bananas, onde não se sabe ao
certo o que é banana-maçã, - eu desconfio.
5 comentários:
Amei o post Angela!
Muito interessante o que houve apesar da situação em que estavas, nos faz pensar que por lá naõ existe o famoso "jeitinho brasileiro". Acho que isso é bom, concordo contigo, talvez seja um dos motivos das coisas serem mais organizadas por lá. Bjs karla
Gostei muito do texto, Angela. Dei risada imaginando a tua cara ao tentar achar a maçã invisível. Prova de que a tecnologia às vezes pode falhar no mais simples.
Mas sempre existe uma solução. Como diz o ditado, "se você está no inferno, aproveita e dá um abraço no diabo". Poderias ter pego uma "maçã-na-versão-de-Angela", ter gritado "it's an apple, goddamn!" e trincado com gosto para provar teu ponto de vista. Ia ser dureza aguentar os pelos do pessego, mas, pelo menos, a tua dignidade ia se manter intacta. Já dizia o Edgar Allan Poe, "quando todas as alternativas possíveis se esgotam, só resta o impossível" - talvez tu tivesse sucesso em convencer a americana que, no Sul do mundo, maçã é pêssego! ;-)
Beijo, gostei bastante do texto
Gustavo
Ângela, muito legal o texto. Acho que expressa muito bem várias facetas culturais do povo do Tio Sam, em especial a confiança nas instituições. Eu também já passei por isso, mas em uma farmácia, e desisiti de levar itens que tinham que ser pesados... a minha sorte é que não tinha fila. Abs. Adrio.
KKKKKKK...
Eu queria muito estar la e presenciar o acontecido!!!!
KKKKKKKKKKKKKK...
Valeu, pessoal, obrigada pelos comentários!
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